17 de jan. de 2015

"Eu gostaria de pensar que o computador é neutro, uma ferramenta como outra qualquer, um martelo que pode construir uma casa ou estraçalhar o cérebro de alguém. Mas há algo no próprio sistema, na lógica simétrica de programas e informações, que recria o mundo à sua imagem. Como a cultura do rock and roll, ele funda um irresistível país nivelado que destrói toda a antiga e lenta cultura de deveres, costumes, lesi e vida social. Achamos que estamos criando o sistema para atender a nossos fins. Acreditamos que o produzimos à nossa imagem. Chamamos o microprocessador de 'cérebro', e dizemos que a máquina tem ´memória´. Mas o computador não é como nós. É a projeção de um pedaço muito pequeno de nós: a parte consagrada à lógica, à ordem, às regras e à clareza. É como se pegássemos o jogo de xadrez e o considerássemos o máximo da vida humana.

Depositamos essa pequena projeção de nós mesmos em tudo que nos cerca e passamos a contar com ela. Para proteger dados, comprar gasolina, guardar dinheiro, ou escrever cartas - já não podemos mais viver sem nada disso. O único problema é este: quanto mais nos cercamos dessa noção limitada da vida, mais limitada a vida se torna. Ficamos adaptados á esfera de ação que o sistema permite, Sim ou Não, Ok ou Cancelar." 

(trecho extraído de 'Perto da Máquina' de Ellen Ullman)