25 de abr. de 2012

O Incêndio




     Bruna não conseguia esconder a felicidade que estampava seu rosto naquela manhã. Saíra para fazer compras pela primeira vez na nova cidade e estava tão contente que nem o peso das compras atrapalhava seu estado de espírito. Tanta felicidade era causada pela tão sonhada vaga na universidade federal da cidade, uma das melhores do país, que ela havia conquistado depois de tantos meses se preparando para o vestibular. Após vários dias de comemoração com a família e os amigos, e um belo presente em dinheiro oferecido pelo pai, as férias haviam chegado ao fim e a moça se mudara para a capital, onde dividiria o apartamento com outra estudante.
     Era menina humilde e ingênua. Estava fascinada e ao mesmo tempo assustada com a metrópole. Os carros que congestionavam as ruas pareciam-lhe sempre prontos a arremessarem-na pelos ares ao primeiro descuido. As pessoas estavam sempre apressadas, sérias, pareciam não notar sua presença nas calçadas. Estava acostumada com as calçadas vazias de sua cidade natal, onde as pessoas sempre se cumprimentavam e tinham um tempinho para trocar dois dedinhos de prosa. Na capital, não. As pessoas estavam sempre indo a algum lugar. Até mesmo os mendigos e os vira latas tinham pressa, pareciam ter hora marcada com alguém, em algum lugar.

     Chegara de viajem na noite anterior. Após conhecer a companheira de apartamento, foi logo dormir, pois pretendia sair cedo para comprar sua parcela de mantimentos para seu novo lar. Agora, por volta das dez da manhã, estava exausta pelo peso das sacolas, mas pouco se importava. Não via a hora de começar logo a estudar. Fazer novas amizades, conhecer a cidade que tantas vezes assistira pela televisão sonhando com o dia em que faria parte de toda aquela atmosfera de cinema. Mas primeiro, tinha que se concentrar em lembrar o caminho até seu prédio e arrumar suas coisas. Depois de perguntar a um taxista, num momento de dúvida sobre qual direção tomar, acabou reconhecendo ao longe a fachada do enorme edifício.
     Vencido o grande desafio de achar o caminho de volta em uma cidade completamente desconhecida, Bruna se depara com outro obstáculo:
     - Qual é mesmo a campainha do me apartamento?
     Estava em frente a duas portas, uma ao lado da outra. A porta da direita era a do seu apartamento e a da esquerda era do apartamento vizinho. Entre as portas estão duas campainhas, uma em cima e a outra mais embaixo. Por maior que fosse seu esforço, não conseguia lembrar-se qual era a campainha. Com os braços cansados e a vontade de descarregar logo aquele peso, preferiu arriscar uma das campainhas que procurar a chave dentro da bolsa. Acabou tocando a capainha com a testa mesmo, para ganhar tempo. Como o peso da cabeça fora mal calculado e o interruptor já estava velho, o mesmo acabou disparando o som da campainha, fazendo-a soar por vários segundos. Desesperada com a mancada, a garota deixa cair as sacolas e procura a chave para entrar logo. Se tivesse tocado a campainha errada teria de desaparecer do corredor antes que viessem atender a porta. Por fim, consegue entrar no apartamento. Com o rosto queimando de vergonha, guarda as compras e percebe que sua companheira não está. Acaba rindo de si mesma. Tocou a campainha à toa e ainda não sabe se foi a de seu apartamento ou a do vizinho. Cansada e com um sorriso no rosto, resolve deitar-se por alguns minutos antes do almoço.
     Quase uma hora depois, Bruna desperta e se levanta para preparar o almoço. Abre a porta do quarto e seu coração dispara: o apartamento está repleto de fumaça. O cheiro de queimado arde seu nariz e ela entra em desespero. Corre procurando o foco de incêndio, na esperança de ainda conseguir controla-lo, mas nada. Procura em todos os cômodos do apartamento e não conseguem descobrir de onde vem a fumaça. Resolve então, ir até a janela da sala gritar por socorro. Quando a garota olha pela janela, percebe que a fumaça vem do apartamento vizinho. Desesperada, começa a gritar:
     - SOCORROOOOOO! BOMBEIRO! FOGO! INCÊNDIO! CORRE! SOCORROOO!
     Grita a plenos pulmões, tomada de pânico. Quando ouve uma voz vinda de dentro do enfumaçado apartamento vizinho:
     - Já não basta ficar tocando minha campainha à toa, agora vai fazer escândalo porque eu queimei o arroz?





(Walisson Menezes)