18 de ago. de 2013

Pássaro de Escritório - Douglas Moura

Em algum tempo fiquei pensando que estar naquela altura seria como fumar um cigarro: enjoativo e prazeroso, arriscado e solitário. Do alto daquela torre de catedral, assistia os carros passarem em silêncio, cabeças de mulheres circunspectas, flanelinhas e outros homens que andavam enquanto olhavam o relógio preso ao pulso.
Eu, que passei tanto tempo contemplando aquela paisagem da janela do meu escritório, de repente estava lá. Lá naquele alto. E era nítido o meu medo, tanto que me agarrei às telhas, para-raio, cruz e tantos outros objetos que via pela frente. Olhei adiante e mirei a janela do meu trabalho, lá havia a minha mesa, meu computador, as minhas coisas... tudo sem mim.
Era um dos medos mais desconhecidos, por isso dava mais medo ainda.
Um passarinho que posou do outro lado, andando sobre o beiral, fez me acreditar que a liberdade poderia ser fácil. Então, ganhei confiança: soltei. Mas eu não era pássaro; era homem. E sob uma tarde que não era azul e sim vermelha mais que rosada, caí.
Caí!
Caí.
Caí...
O susto foi tão grande que acordei. Era o meu chefe a me entregar mais um relatório.