Fazia 35 dias que ela não adentrava no prédio onde acabava
de chegar. Estava mais bonita do que nunca.
Foi ao salão na véspera, comprou um vestido novo e se dirigiu ao prédio
onde trabalhava. Quando ela passou pelo hall, todos a olharam de longe.
Erguiam-se braços de todos os lados, berrava-se “Ei Rosi, que saudade” a todo
instante. Como era boa a sensação de voltar de férias.
Os amigos comentavam que estava mais magra, que o cabelo
estava lindo. Os Rapazes e homens feitos a fitavam de longe. Realmente: estava
propositalmente mais linda que o normal.
- Nossa, viajar não viajei. Mas saí todos os fins de
semana. Ia pra festas, visitei uns parentes. Mas na verdade não fui pra muito
longe. Respondia aos incessantes questionamentos sobre o repertório das férias
recém findadas. Falava com orgulho do tanto que comera, do que bebera e com
quem andou. Risadas enigmáticas com as colegas mais intimas e o sorriso sempre
emplacado na face. Sua felicidade a deixava ainda mais linda naquele dia em
especial.
Enfim, de volta ao escritório. A visão que teve foi a
moldura formada pelo vão da porta onde se encontravam seu chefe e uma colega de
setor. Três batidinhas na porta: - Ei gente! Jogou de ombro o cabelo pra exalar
mais ainda o seu charme. A colega de escritório sorriu um sorriso de alegria em
ver a amiga, levantando-se e saltando em um abraço fraterno. As mesmas
perguntas, as mesmas respostas.
- Oi, Braga. Cumprimentou o chefe que ainda não havia se
pronunciado desde os quase cinco minutos que ela estava ali na sala conversando
com a colega.
- Oi Rosi. Anita, será que você poderia se retirar para
que eu possa conversar com a Rosi? Disse o chefe, levantando-se e acompanhando
a secretária até a porta, fechando-a em seguida.
De costas para a porta, Braga encarava a funcionária nos
olhos. Rosi não entendeu o que se passava. Começou a tremer depois de uns
segundos
sem maiores atividades. O chefe deu alguns passos em sua direção,
sempre olhando em seus olhos. Quando estavam bem próximos, ele passou a mão
pelos cabelos dourados da mulher, que escorriam como mel de seus dedos,
apertando a mão em forma de concha sobre a nuca feminina. A respiração de Rosi
se tornou ofegante, ainda mais quando a mão esquerda do homem lhe enroscou a
cintura, imobilizando-a.
Ainda era estranho para a mulher tudo o que acontecia.
Apesar de imóvel e nunca ter esperado por algo como aquilo, ela cedia, ela
gostava. Era algo inimaginável com alguém improvável: seu chefe.
O clima esquentava junto com a mão de Braga, que
percorriam todo o corpo rosado da funcionária. O cheiro do homem adentrava por todo
o cérebro da mulher. Ela fechou os olhos e se entregou a aquela fantasia louca.
Ele a deitou na mesa e avançou sobre ela, munido de todos os instintos carnais.
Da forma mais silenciosa possível, consumaram ali um desejo antigo, emanando
volúpia, suor e cheiro de látex.
Tudo não durou mais que uns vinte e cinco minutos. Ainda
confusa, com a roupa amassada, mas feliz, indagou à Braga: E agora?
Fechando o cinto e acendendo um cigarro, Braga abriu a
porta da sala.
- Passe no RH. Você está demitida.
(Marlos
Reis)