10 de jul. de 2012

Férias - Marlos Reis



            Fazia 35 dias que ela não adentrava no prédio onde acabava de chegar. Estava mais bonita do que nunca.  Foi ao salão na véspera, comprou um vestido novo e se dirigiu ao prédio onde trabalhava. Quando ela passou pelo hall, todos a olharam de longe. Erguiam-se braços de todos os lados, berrava-se “Ei Rosi, que saudade” a todo instante. Como era boa a sensação de voltar de férias.
            Os amigos comentavam que estava mais magra, que o cabelo estava lindo. Os Rapazes e homens feitos a fitavam de longe. Realmente: estava propositalmente mais linda que o normal.
            - Nossa, viajar não viajei. Mas saí todos os fins de semana. Ia pra festas, visitei uns parentes. Mas na verdade não fui pra muito longe. Respondia aos incessantes questionamentos sobre o repertório das férias recém findadas. Falava com orgulho do tanto que comera, do que bebera e com quem andou. Risadas enigmáticas com as colegas mais intimas e o sorriso sempre emplacado na face. Sua felicidade a deixava ainda mais linda naquele dia em especial.
            Enfim, de volta ao escritório. A visão que teve foi a moldura formada pelo vão da porta onde se encontravam seu chefe e uma colega de setor. Três batidinhas na porta: - Ei gente! Jogou de ombro o cabelo pra exalar mais ainda o seu charme. A colega de escritório sorriu um sorriso de alegria em ver a amiga, levantando-se e saltando em um abraço fraterno. As mesmas perguntas, as mesmas respostas.
            - Oi, Braga. Cumprimentou o chefe que ainda não havia se pronunciado desde os quase cinco minutos que ela estava ali na sala conversando com a colega.
            - Oi Rosi. Anita, será que você poderia se retirar para que eu possa conversar com a Rosi? Disse o chefe, levantando-se e acompanhando a secretária até a porta, fechando-a em seguida.
            De costas para a porta, Braga encarava a funcionária nos olhos. Rosi não entendeu o que se passava. Começou a tremer depois de uns segundos
sem maiores atividades. O chefe deu alguns passos em sua direção, sempre olhando em seus olhos. Quando estavam bem próximos, ele passou a mão pelos cabelos dourados da mulher, que escorriam como mel de seus dedos, apertando a mão em forma de concha sobre a nuca feminina. A respiração de Rosi se tornou ofegante, ainda mais quando a mão esquerda do homem lhe enroscou a cintura, imobilizando-a.
            Ainda era estranho para a mulher tudo o que acontecia. Apesar de imóvel e nunca ter esperado por algo como aquilo, ela cedia, ela gostava. Era algo inimaginável com alguém improvável: seu chefe.
            O clima esquentava junto com a mão de Braga, que percorriam todo o corpo rosado da funcionária. O cheiro do homem adentrava por todo o cérebro da mulher. Ela fechou os olhos e se entregou a aquela fantasia louca. Ele a deitou na mesa e avançou sobre ela, munido de todos os instintos carnais. Da forma mais silenciosa possível, consumaram ali um desejo antigo, emanando volúpia, suor e cheiro de látex.
            Tudo não durou mais que uns vinte e cinco minutos. Ainda confusa, com a roupa amassada, mas feliz, indagou à Braga: E agora?
            Fechando o cinto e acendendo um cigarro, Braga abriu a porta da sala.
            - Passe no RH. Você está demitida.






                                                                                                          (Marlos Reis)