23 de mai. de 2012

O Mundo Sem Seres Humanos




     Toda forma de arte leva em si, consciente ou inconscientemente, o sonho da imortalidade. Além do objetivo primordial de se expressar, o artista também deseja ser lembrado depois de sua morte. Os criadores que são reconhecidos durante a vida sempre se questionam por quanto tempo serão admirados, citados e estudados, depois que se forem. Já os artistas que ainda não foram reconhecidos, sonham com o dia em que terão, enfim, sucesso – não me refiro ao sucesso comercial, mas sim a alcançar seus objetivos artísticos, que é o maior sucesso que um artista pode desfrutar. Os “gênios incompreendidos” costumam se confortar dizendo si próprios que a humanidade ainda não está preparada para sua arte. Como não estavam preparados para a pintura de Van Gogh no séc. XIX.
     Pois tenho uma má notícia para vocês, gênios incompreendidos; nem Van Gogh será lembrado para sempre!
     Se, como num passe de mágica ou através de auto destruição, a humanidade deixasse de existir, quase nada restaria de vestígios de nossa civilização. Sem humanos para fazer a manutenção, logo a natureza reciclaria tudo que um dia foi modificado pelo homem.
Até mesmo os satélites artificiais na órbita da terra, depois de algum tempo sem as regulagens necessárias, terminariam perdendo altitude, até serem tragados pela atmosfera e vaporizados durante a queda.

     Em um mundo sem seres humanos, toda a incrível arquitetura criada pelo homem seria destruída. Os grandiosos arranha-céus de Nova York seriam apenas ruínas disformes, depois de trezentos anos de intervenções naturais. A vegetação cresceria das rachaduras no asfalto e acabaria por tomar todo o solo da cidade, após cinquenta anos. O Cristo Redentor, no Rio, mal duraria duzentos anos, até que as primeiras partes começassem a desmoronar, primeiro os braços e depois a cabeça. O mesmo aconteceria com a Estátua da Liberdade. Belo horizonte, que ainda preserva uma grande área verde, logo seria tomada por ervas, árvores e animais. Na Capela Sistina, os afrescos de Michelangelo ficariam esmaecidos em pouco tempo, até que o teto começaria a rachar pela umidade e desmoronaria. Por incrível que pareça, a Palavra duraria mais do que a maioria das construções. Os papagaios, hoje domésticos, voltariam á vida selvagem. Alguns morreriam, outros conseguiriam se readaptar ao meio selvagem e sairiam repetindo por anos as mesmas palavras que aprenderam com os humanos. Os filhotes destes papagaios aprenderiam algumas dessas palavras com seus pais, mas noventa por cento do vocabulário seria perdido a cada geração. Como um papagaio vive até setenta anos, ao final de mais ou menos trezentos anos já não se ouviria nenhuma palavra pelo planeta.
     Em dez mil anos quase nenhum vestígio de humanidade seria visível, na superfície da terra. As Pirâmides do Egito ainda estariam no mesmo lugar, mas  seria só uma questão de tempo, até serem completamente cobertas pela areia do deserto. A terra também já teria enterrado todas as cidades pelo mundo.
     Após cem milhões de anos – pouquíssimo tempo dado a idade do planeta e do universo – fósseis seriam um dos poucos resquícios do que um dia foi a humanidade. Chega a ser irônico, mas uma das poucas coisas que resistiriam todos esses anos, seria algo que não foi criado pelo homem: seus próprios ossos. O fosfato e o cálcio em nossos ossos, são duráveis como os de Dinossauros, e permaneceriam enterrados por milhões de anos.
     Talvez, num futuro longínquo e indeterminável, outra forma de vida inteligente e racional habitará nosso planeta. Estes seres pesquisariam o solo e descobririam nossos fósseis. Após anos de estudos, eles ligariam as peças até terem uma boa ideia do que foi nossa civilização. Eles entenderão muito sobre nossos anos de estadia no planeta e até deduziriam que nós nos expressávamos através de várias formas de arte, mas, nenhuma obra restaria. Nem vestígios de Shakespeare, Michelangelo, Dostoiévski, Sócrates, nada. Talvez eles tenham mais cautela do que nós ao habitar o planeta. Talvez entendam mais rapidamente que tudo o que constitui a Terra é parte integrante do mesmo gigantesco organismo. E que o mau uso do que nos cerca é como dar um tiro no próprio pé. Talvez...



(Walisson Menezes)